10.05.2008

Kazuo Ohno

Kazuo Ohno é a história viva do butoh, um dos estilos de arte mais controversos do Japão, que influenciou artistas do mundo todo. Não é por acaso que seu centenário, completado em outubro passado, rende comemorações com inúmeras exposições, workshops e apresentações ao redor do planeta.

Extremamente gráficas, as coreografias do butoh não poupam os expectadores de sensações impactantes com seus movimentos de dança e teatro. Tais características foram herdadas do pano de fundo da Segunda Guerra Mundial - em que Ohno foi combatente.

Não à toa, o estilo nasceu com o nome de Ankoku Butoh, ou dança da escuridão profunda, através de suas mãos e das de Tatsumi Hijikata. O butoh foi mostrado ao público pela primeira vez em 1959, com o espetáculo Kinjiki, ou cores proibidas que tocava o polêmico tema da homossexualidade. Desde o princípio, o estilo começou chocando os valores tradicionais da época pelo seu jeito de abordar temas como violência, amor, sexo, vida e morte.

Até os dias de hoje, o butoh encontra resistência no Japão, a ponto de nem constar nos calendários como uma arte típica daquele país. Quem sabe a falta de reconhecimento no arquipélago comece a cair com o centenário de Ohno. Pelo menos, um grande evento comemorativo está programado em Kanagawa.


Divulgação

Vida

A fraqueza desponta em mim, ao sentir que minhas mãos não serão suficientes para segurar tudo. Mas, neste instante, sinto que existe um outro eu.Ohno nasceu em Hokkaido, filho de um chefe de cooperativa de pescadores e de uma talentosa instrumentista. A mãe, que também sabia tocar cítara de treze cordas, tinha o costume de se sentar ao órgão para que seus filhos a acompanhassem cantando. Mais tarde, Ohno foi enviado a Akita, onde estudou da sexta série até o fim do ensino médio. Excelente esportista, participou do clube de atletismo da escola. Aproveitando o destaque no esporte, cursou educacão física na faculdade Nihon Taiiku Daigaku. Em 1929, entre uma aula e outra, teve a chance de assistir a La Argentina, encenada em Tokyo pela espanhola Antonia Merce, famosa por ter rompido com os padrões do balé convencional.

O “encontro” acabaria mudando a vida de Ohno para sempre. Uma vontade enorme de se envolver com aquele mundo tomava conta dele. Mas foram necessários mais sete anos para que ele tomasse a decisão de ter aulas de dança. Teve como primeiros mestres Takaya Eguchi e Souko Miya.

A Segunda Guerra Mundial interrompeu seus estudos por nove anos, quando lutou na China e na Nova Guiné. A experiência como combatente e prisioneiro de guerra influenciou sua dança, exposta pela primeira vez só quando tinha 43 anos, ao lado de Mitsuko Ando, outro discípulo de Eguchi.

Foi por intermédio de Ando que conheceu Tatsumi Hijikata, com quem Ohno trabalhou junto por muitos anos. Só bem mais tarde, em 1977, ele fez sua primeira apresentação solo. Em Admirando la Argentina, Ohno produziu sua obraprima e homenageou o espetáculo que o fez se interessar pela dança.

O Butoh se desenvolveu primeiramente no Japão, até que em 1980 ganhou o mundo. Ohno foi convidado a apresentar sua obraprima máxima no 14º Festival Internacional de Nancy,
na França. A apresentação lhe rendeu sucesso, o qual o levou a percorrer continentes como Europa, América e Ásia.

Apresentou-se três vezes no Brasil, em 1986, 1992 e 1997. Ohno ficou na ativa até por volta dos noventa anos. A sua última apresentação foi no ano de 1999, com Réquiem para o século XX, em Nova York. No ano seguinte, um problema na visão o impediu de continuar com as atuações.

Mas até hoje ele continua ensinando e se movimentando com a ajuda de outros bailarinos. Em cadeira de rodas ou sentado no chão, o mestre segue os movimentos com as mãos e continua sentindo a alma do butoh.

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